Ontem foi um dia particularmente difícil na temática
“satisfazer o cliente na sua incessante busca por uma certa
e determinada marca de tabaco cujo nome lhe escapa mas
onde existem certezas absolutas sobre preço e cor”.
Começo pelo fim, ou seja, quando já passava das
7 e tinha todo o tabaco aprumadinho e arrumadinho para
hoje. Tirando o pormenor “última hora”, nada tenho contra
o cliente de última hora. No fundo, somos ambos “última
hora”. Está na minha última hora para ir à minha vida e
está na última hora da senhora para ir lá para a vida dela.
Estamos ambos com pressa, e urge chegar a acordo e fechar
negócio o mais rapidamente possível, para cada um ir à sua
vida.
A coisa empata-se quando o cliente de última hora não
sabe o que quer. Ou melhor, sabe. O que não sabe é colocar
a sua sabedoria em palavras. Aponta para um expositor de
tabaco outrora cheio de tabaco e agora tristemente vazio, e
só lhe sai:
– Vermelho, quero um vermelho... daqueles de 3,70€.
– Fácil, só há um (Vou ao caixote e estendo-lhe o
maço vermelho de 3,70€).
– Não é este...
– A 3,70€ só há este.
- Mas não é este...
– Qual é?
– É o vermelho.
– Este é vermelho e custa 3,70€. Não há outro...
– Há, sim.
– Não há.
– Há. É vermelho. Não sei é o nome.
– 3,70€ e vermelho só o que lhe mostrei. Há um verde
a 3,70€. Mas é verde.
– Deixe ver.
(...)
– É este!
– Mas este é verde...
– É este, mas em vermelho.
Volto ao caixote. Não encontro. Vou a outro caixote.
Abro um volume novo, enquanto tropeço em tudo o que é
material que às 18.30 estava lá fora e agora, às 19.10, está
cá dentro. É vermelho e custa 3,70€. O cliente de última
hora estava certo e o dono de quiosque de última hora estava
errado. Também acontece. Gosto muito quando os meus
clientes, principalmente os de última hora, me dão uma lição
de última hora.
– Tinha razão, peço desculpa. Aqui está.
– Olhe, afinal dê-me um daqueles pretos. Quanto
custa?
– 3,80€.
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