Quinta-feira, 11 de Setembro de 2014, passa a ser o dia em que o 11 de Setembro dos quiosques se abateu sobre este estaminé. Passavam alguns minutos sobre a hora que agora não me lembro quando a cerca de 2.500 metros acima do toldo que ostenta as bonitas palavras “Quiosque Praça 8 de Maio” se formou sem aviso prévio aquilo que se designa por “tempestade do caraças”.
Para tornar ainda mais trágico este 11 de Setembro dos quiosques é preciso recuar 10 horas no tempo. E o que se passou 10 horas antes da tragédia? Nada de especial: estive preso. Desconheço as razões que me levaram para a choça e quanto tempo lá permaneci. Aproveito apenas a oportunidade que me é aqui concedida para me declarar inocente.
Entretanto fui libertado. Lá fora esperavam-me dois amigos, que ao invés de correrem para os meus braços, manifestando o seu apoio neste momento tão complicado da minha vida, piram-se mal me vêem.
O despertador tocou à hora de sempre e deixei assim de ser um ex-recluso, pronto a recomeçar uma nova vida, e volto a ser o não-recluso que madruga para ir abrir um quiosque. Como dizia o coiso, a vida é feita de recomeços. Mas não foi o caso.
Ora, se às 3 da matina me encontrava prisioneiro por um crime que não terei cometido, horas e tal mais tarde estava feito prisioneiro numa solitária de 6 metros quadrados, rodeado de jornais, revistas e bolsas de praia que este verão não se venderam. Aproxima-se a tal tempestade, que numa primeira fase ignorei e que numa segunda e terceira fase me obrigou a levantar o cu da cadeira e recolher algum material mais sensível a ventos e chuvas de intensidade mais atrevida. Na quarta e quinta fase, toda a estrutura que supostamente resguarda as vitrinas norte e sul perde o controle da situação. Em linguagem simples e directa, chove dentro da vitrina sul, mais concretamente na zona da culinária. Em 2 minutos, o borrego da capa da Teleculinária transforma-se em ensopado de borrego e a sopa de feijão da Cozinha Regional nº58 passa a ser feijão com água. Em 3 filadas de revistas, não há cozinhado que resista. Tento salvar o pouco que resta. Há revistas afogadas no chão, molas que saltam para o vazio e um não-recluso a tomar um monumental banho junto à vitrina sul do quiosque.
Da parte da tarde, quando o sol já brilha, está montado um lindo estendal de revistas de culinária nas traseiras do quiosque. É aguardar que sequem para depois passarem pelo ferro de engomar.
Tento consolar-me junto dos meus familiares (sim, já que os amigos me abandonam nas horas mais difíceis, levados pela onda populista que me acusa de crimes que não cometi). Em vão. Tenho um furo no pneu do carro.
Medo. Muito medo do 11 de Setembro dos quiosques.
P.S. - optei por não inserir fotos para não ferir a sensabilidade de alguns clientes de revistas de culinária.
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