Algo de errado se passa com as campanhas de sensabilização sobre os riscos do tabaco, e eu em conjunto com toda a sabedoria que me foi conferida por anos de experiência na matéria, vou dar uma ajuda. Tenho sempre que explicar tudo, arre!
Vamos lá a ver uma coisa. Não há alma neste planeta que nos tempos que correm não saiba que o tabaco faz mal à saúde. Eu sei, o vizinho sabe, o primo do vizinho sabe, o filho do primo do vizinho sabe e o gato do filho do primo do vizinho pode não saber, mas desconfia. Por isso, caros amigos das campanhas de sensabilização, faz tanto sentido informar as pessoas e os gatos que o corpo de um espécie humano não lida muito bem com o consumo de tabaco, como o presidente do Barcelona gastar 3 milhões de euros a anunciar ao mundo que a sua equipa de futebol é a melhor do planeta terra e arredores.
A questão central da problemática da própria questão em si é que uma vez iniciado e regularizado o ciclo de fumar, todo o processo de retrocesso é uma grande problemática, o que equivale a dizer que boa parte da malta que entra no ciclo tem uma tremenda dificuldade em sair do mesmo, apesar de saber de cor que aquela coisa lhe está a dar cabo da saúde e talvez da carteira. Para os mais tontinhos, resumindo a uma só palavra: vício.
Por isso, rapaziada, o que suas excelências têm a fazer é o seguinte. Primeiro, largar esse vício de informar a gente já informada que o Acetato de Chumbo faz estragos na traqueia ou que o Formladeído não vai muito à bola com todo o sistema respiratório. Segundo, o que a malta precisa de saber, principalmente a malta jovem, é que depois de alcançado o estatuto social que o jovem fumador prossegue junto do pessoal amigo, vai chegar o dia em que o jovem vai querer largar aquilo e não vai conseguir, compreendendo só então toda a arte e engenho que está por trás do sucesso da industria tabaqueira.
Como vão fazer isso? Não sei. Posso vir a saber, mas não sou pago para isso, e já trabalhei bem para lá das competências que me foram confiadas.
Entre Maio de 2009 e Maio de 2011:
1º Marlboro - 7.006
2º Sg Gigante - 6.386
3º Camel - 5.462
4º Sg Ventil - 4.971
5º LM Azul - 3.797
(...)
Total: 79.923
Tenho uma cliente com o cérebro directamente ligado à lingua. Podia até ser um fenómeno bastante interessante não fosse o facto de o cérebro transmitir à lingua da menina informações de uma inutilidade impressionante. A menina tem como hobby fazer verdadeiras dissertações sobre várias temáticas referentes às revista Ana e Mariana, sobre as suas motivações pessoais no momento de optar entre a Máxima e a Elle, embora faça questão de frisar que não leva nenhuma, sobre a importância da ofertazinha da revista Bravo e da espectacularidade dos seus conteúdos que a amiga lhe mostrou quando comprou a revista no pingo doce lá ao pé de casa que dá muito jeito e os produtos do pingo doce aqueles mesmo de marca pingo doce consomem-se muito bem e têm qualidade porque noutros supers não é bem assim às vezes as pessoas têm uma ideia errada sobre estes produtos mas poupa-se e hoje em dia temos que poupar né a vida agora está mais complicada pelo menos a minha mãe diz e isso nota-se há menos pessoas na rua por exemplo, sobre as especificações técnico-tácticas que a levam a pedir que lhe mostrem a filada de publicações de ponto-cruz que se encontra na lateral esquerda do estabelecimento mesmo que agora não tenha dinheiro e que passe mais tarde (e passa, ainda sem dinheiro mas com a mesma vontade de passar mais tarde. e passa, ainda sem dinheiro mas com a mesma vontade de passar mais tarde. e passa, ainda sem dinheiro mas com a mesma vontade de passar mais tarde. e passa, ainda sem dinheiro mas com a mesma vontade de passar mais tarde).
Nos intervalos de todo este diálogo consigo própria, numa batalha constante entre cérebro e lingua, a menina arranja sub-intervalos de tempo para comentar a actualidade nacional, estadual, internacional e interplanetária, embora a ideia que fique no ar é que o cérebro da menina ainda não se adaptou à velocidade da própria lingua. É pena.
A 14 de Abril último, a propósito do processo de resgate de Portugal, o senhor director-geral do FMI ("senhor" é para disfarçar) afirmava assim: "Não vai ser rápido, nem fácil". Exactamente um mês mais tarde, o cidadão Dominique Strauss-Kahn ("cidadão" é para disfarçar), numa suite do Hotel Sofitel em Nova Iorque onde a diária custa 3000 dólares, terá tentado violar uma funcionária de limpeza. Neste caso particular, não havendo grande espaço para conversas e negociações, não terão passado de pensamentos as palavras que usou para f0d€r Portugal: "Não vai ser rápido, nem fácil". Não terá sido propriamente fácil para a funcionária de limpeza, assim como Dominique não terá sido suficientemente rápido a dar à sola. Estivesse ele em Portugal e a história seria outra. Nos states sopram outros ventos de justiça, e o homem ("homem" é para disfarçar) arrisca-se agora a uma pena pesadota. Não vai ser rápido, nem fácil.
Pelo quiosque, nada de novo. Faz-se justiça pelas aparências:
a) Tem mesmo aspecto disso
b) Aquela cara nunca me enganou
c) Tem escrito culpado na testa
d) O olhar diz tudo
Chefe, aparentemente, eu não faço notícias. Só as vendo.
O meu gato que me perdoe, mas eu sempre quis ter um cão. Sempre… até ao dia em que. Até ao dia em que em casa de fulano tal (se não me falha a memória), tive a ideia genial de entrar em palhaçadas com um cão salsicha. O cão salsicha, como é do conhecimento geral, é um tipo de cão que um gajo olha e só de olhar um gajo pensa que era capaz de passar um dia inteiro a olhar para o cão salsicha. Mas o livro de instruções do cão salsicha é muito claro: o cão salsicha é sempre o último a rir. No meio da palhaçada - esperava eu pelo cão salsicha escondido e agachado atrás de um sofá- o cão salsicha surpreende-me por trás e entra num frenesim de tentativas de penetração.
Para a história ficou escrito que o cão salsicha se tornou o imprevisível herói da tarde e o indivíduo abusado o motivo de risota durante a época 87/88. Foram momentos muito duros e traumáticos, e quem já foi alvo de tentativa de violação por parte de um cão salsicha sabe bem do que estou a falar. O episódio obrigou-me a ter uma conversa muito séria comigo próprio e em conjunto decidimos redefinir algumas prioridades para a nossa vida. Riscámos o cão da lista e passámos a incluir o item “miúdas”. Terá sido uma boa opção, pese embora a possível compatibilidade entre ambas as espécies. Mas há coisas que não se fazem e o cão salsicha arruinou ali a felicidade de um compatriota seu ser bafejado pela sorte de ter como dono um tipo tão impecável como a minha pessoa julga ser. De qualquer forma, não deixa de ser irónico que a “Cães e Companhia” venda mais que a “Penthouse”. Mundo cão, este.
Este quiosque tem muito orgulho em contar no seu plantel com o cliente mais astronomicamente agressivo/estratosfericamente brutamontes/politicamente desagradável/estupidamente ofensivo/invariavelmente espalhafatoso/não sabe/não responde do mundo dos clientes de quiosques.
Já por aqui foi referenciado várias vezes e de cada vez que é chamado a este espaço as suas especialidades estão ainda mais refinadas e desenvolvidas que na chamada anterior. Não admira por isso que na parte que me toca todas as cautelas sejam poucas de modo a manter a sua identidade inalcançável e as minhas trombas intactas. Será uma grande chatice para mim e para as pessoas que me amam se algum dia o homem sonha que o parágrafo ali em cima foi escrito em sua memória. Acrescento, antes de irmos em frente, que é nestas alturas de grande nervosismo e pressão que se revela o lado “supersticioso que há em nós”. Se me dão licença eu vou ali vestir a minha t-shirt da sorte (“i wish i was a porno star”) e depois sim vamos em frente.
Não há muito a dizer. Eu vou passar a palavra ao senhor, tentando ser o mais fiel possível ao seu discurso, mascarando o que há para mascarar (há meninas novas a ler isto, ok?), mas deixando já o alerta que as suas actuações ao vivo, normalmente entre as 12 e as 12.30 e dependendo sempre da manchete do correio da manhã, são seguramente muito mais intensas e inesquecíveis que a gravação em estúdio que se segue:
“Ó Pedro, já viu isto? Este c****** tenta matar a mulher e não consegue. Agora tá f*****. Tá f***** porque além de tar f***** não se livrou da mulher. F***-se, há gajos que não sabem mesmo fazer as m****s. Há gajos que não têm mesmo jeitinho nenhum para isto.
(…) Ó Pedro, eh pá… se há m**** que me deixa f*****… já viu aquela m****, olhe práquilo… pá, se há m****s que me deixam f***** é ver gajos com o cabelo… como é que se chama aquilo… é pá… com o cabelo amarrado! Mas porquê, c******???!!!... Era chegar lá ao pé do gajo e puxar-lhe por aquela m****, e abanar-lhe aquilo e o c****** até o gajo ficar estendido no meio do chão. F***-se… há dias vi um velho assim, um gajo de cabelos brancos de cabelo amarrado. F***-se!!! O cabrão do velho ainda me lembro, ficou-me a dever 300 contos, o cabrão!! E depois há uns dias vejo o gajo de cabelo amarrado e a passear de jipe, o filho da p***!!! Pra pagar 300 contos (ou euros, ó c******) tá quieto ó mau. Para passear de jipe e amarrar o c****** do cabelo… já viu ó Pedro, o filho da p****!!!”
Estou ainda à procura das palavras certas para dizer ao gato que daqui a um mês vai ser castrado. Na verdade, na conversa que iremos ter de homem para gato e vice-versa, estou a contar comunicar-lhe tudo o que não lhe vai acontecer durante as suas vidas, muito ao estilo daquilo que Sócrates nos comunicou sobre tudo o que não nos vai acontecer nos próximos tempos.
Gato, basicamente - e vou dizer-te isto da forma mais suave possível - , nas tuas vidas não vais morrer à fome, não vais ser vadio, não vais sair à noite, não vais conhecer a gata das tuas vidas, não vais poder contar aos teus netos quão espectacular era a pessoa que te punha a ração no prato e que limpava o teu cócó.
Gato, assim como o teu dono, por muito que o queira, ainda não os tem no sítio para dar a notícia ao seu cliente mais teimoso que nunca na vida vai conseguir recuperar o fascículo "Benguela Railways Class 11" da coleccção Locomotivas do Mundo, devido a incompetência alheia, tu vais querer concretizar todos aqueles desejos, mas nunca nas tuas vidas não vais ter tomates para o fazer. Entendidos?
Sucedem-se, a um ritmo bastante interessante, as comunicações ao país, sejam do presidente da república, do primeiro ou do último ministro. Se de um lado chove, do outro lado troveja. Se um diz o que não vai acontecer, o outro dá instruções para que não aconteça
As comunicações ao país tornaram-se aborrecidas. São uma espécie de empate a zero entre os últimos classificados do campeonato distrital de Beja, com a diferença que antes da comunicação ao país já sabemos que vai continuar tudo a zero. As comunicações ao país banalizaram-se e não trazem nada de novo, nem no conteúdo nem na avaliação ao carácter de quem as comunica. A parte mais entusiasmante da comunicação ao país é o antes da própria comunicação ao país, em que se tenta adivinhar o que vai ser comunicado, para que lado o comunicador vai estar virado e quantas vezes a palavra “dificuldades” vai ser comunicada. Na verdade, a comunicação ao país já esteve mais longe de entrar como aposta na bet and win.
Muito bem. Como responsável pela comunicação de comunicações à clientela do quiosque, está chegada a hora de comunicar a seguinte comunicação.
Caros clientas e clientos,
Como é do conhecimento público, os quiosques e demais estabelecimentos comerciais atravessam algumas dificuldades. Sabemos que estas dificuldades se estendem a inúmeros sectores da nossa economia, mas vamos deixar que esses sectores emitam os seus próprios comunicados a reivindicar as suas próprias medidas em nome das suas próprias preocupações.
Pois bem, estas dificuldades estão inerentes ao facto de circular por aí uma crise financeira de proporções a tender para o assustadoras. Não vamos dizer que não há crise financeira. Parece mesmo que há, a julgar pelo número de comunicações ao país. Mas não vamos fazer disso a maior das tragédias nacionais.
Há menos dinheiro a cair nas vossas carteiras, compreendemos isso. Mas não vamos deixar de ir ao quiosque por causa de tal problemática, ok? Todos temos que fazer sacrifícios, e esta é altura para unirmos esforços e de fazermos opções sensatas. O que é uma bola de berlim ao lado de uma TV Guia? Um bilhete de cinema ao lado do Expresso? Uma gorjeta para o arrumador ao lado de uma Trident Fresh? E um fim-de-semana no Algarve ao lado da colecção completa de bombardeiros da segunda guerra mundial? Hum??? Não vamos castigar que não merece, pois não? O quiosque é pequenino e jeitosinho, todos concordam. O quiosque é acolhedor (quando chove, aquele super-toldo em forma de nave espacial dá um jeito enorme; quem nunca se abrigou lá de baixo que atire o primeiro Diário de Notícias). O quiosque não cheira mal (ok, às vezes cheira mas eu acho que já sei quem é o cão responsável). O quiosque até que é limpinho, apesar da manutenção ser feita por dois seres humanos do sexo masculino. O quiosque até já foi a vossa casa entregar o jornal (pronto, depois houve malta a abusar, a pedir o produto “para as 9:37 e já agora traga-me um saco que a dona Rosalina vai deixar para mim no restaurante que fica ali perto do talho”). O quiosque sempre manteve o vosso anonimato nas histórias que fizeram as delícias dos nossos leitores. Hum???
No fundo, o quiosque sabe que quanto menos vende, mais tem que devolver. Isso implica mais trabalho e nós não queremos ficar conhecidos como o ramo de actividade que quanto menos vende mais trabalho tem. Nós não queremos de forma alguma criar mais um posto de trabalho só porque está a sobrar mais tralha para devolver.
Portanto, voltamos a repetir, o lema é “unir esforços para não deixar de ir ao quiosque”, ou se preferirem “vamos primeiro tratar das dificuldades do senhor do quiosque e depois logo se vê”.
Boa noite.
O responsável pela comunicação de comunicações
Tinha-se jogado na véspera um importante jogo entre não sei quem e não sei quem mais. Surpreendentemente o jogo foi marcado por decisões polémicas da equipa de arbitragem e do treinador da equipa do não sei quem. Alguém, não sei quem, surge à boca da banca e começa a desbobinar a sua versão dos factos, num tom algo agressivo, irritado não só com o árbitro mas acima de tudo com o treinador de não sei quem. Tentei acalmar o senhor e consegui. Estranhava apenas o facto de me tratar simultaneamente por você e por tu: "O penalty é muito duvidoso, não achas? Mas isso não invalida que o gajo não tenho mexido na equipa mais cedo!... Olhe, dê-me o Record... E viste aquela entrada logo no início da 2ª parte??". O homem estava com um ritmo endiabrado e eu sentia algumas dificuldades em comentar e responder. "Pois, mas repare, lances duvidosos vai haver...". Não me deixava sequer acabar as frases e ria-se na minha cara. "Diga-me quanto é? 85 cêntimos?... E a dualidade de critérios nos lances à entrada da área, não dizes nada??". Tentei ainda entrar novamente em diálogo: "Lembro-me de um do...". E fui novamente interrompido com um sorriso de gozo, acompanhado de um "obrigado, bom dia". Só quando virou costas é que reparei no auricular.
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