Quinta-feira, 31 de Maio de 2007
Esta é a designada secção “
Outros” do quiosque. Embora esteja situada a média altura, há quem lhe chame
sótão. Eu, por exemplo.
Aqui são colocados artigos e utensílios variados sem classificação, que não cabem na respectiva secção, que estão fora de prazo de entrega ou que simplesmente estão de tal maneira condenados ao insucesso que são despejados sem dó nem piedade para esta autêntica prateleira da morte.
Quando a prateleira está cheia, isso pode significar uma de duas coisas, ou mesmo ambas: ou não existe espaço em mais lado nenhum (é o caso daqueles filmes porno à direita e dos cromos
Maxi Tuning, por cima dos pratos de sopa da
Caras), ou está em curso uma má gestão na devolução de sobras, ou ainda, uma das distribuidoras está a mandar tralha desnecessária, apenas para angariar uns cobres enquanto não se procede à respectiva devolução (
afinal eram 3 coisas).
À esquerda, ao lado dos
Pokemons e por cima dos dois livros de
Miguel Torga que a dona Augusta da padaria teima em não levantar, repousam 3 exemplares das Memórias Fotográficas do Benfica 1904-2004. Seguramente, já viajaram mais quilómetros em ano e meio que Mário Soares em 10 anos de presidência. Esta semana, as ditas memórias lá regressaram novamente ao quiosque, e desta vez a estadia vai-se prolongar por 6 longas semanas.
Já não as via há uns bons 3 meses, mas não tive saudades. Desconheço se mais alguém recebe estas memórias benfiquistas, vezes e vezes sem conta. Mas sei, tenho a certeza, que este ciclo do recebe/arruma/devolve fez com que o mesmíssimo exemplar que tinha devolvido há meses atrás voltasse ao quiosque, ainda com o pequeno autocolante que eu próprio havia colocado com a indicação da semana de devolução! Ou se trata de uma enorme coincidência ou anda um gajo do Sporting a gozar comigo.
A sério, parem lá de mandar isto. Isto não vende... eu já tentei. Já esteve em destaque. Em cima, em baixo, em pé, sentado, deitado e de cócoras. Já foi impingindo ao tesoureiro da casa do Benfica, mas ele comprou em 2004, já lá vão 3 anos. Tenho dezenas de clientes sócios do glorioso, e nenhum mostrou pinga de entusiasmado. Oh pá, reformulem a coisa... Sei lá... baixem o preço, juntem um pires de tremoços ou um copo de tinto. Como está, não vendo isto nem que me apareça aqui o Eusébio.
Quarta-feira, 30 de Maio de 2007
in Focus, 30 de Maio, dia de greve geral
O teorema de Eustouaflito, que me era indiferente até hoje, diz que é fisicamente impossível instalar uma sanita num quiosque com 6 metros quadrados. Pelas 10 e 25 da manhã, tive oportunidade de passar a conhecer um dos corolários desse teorema. É o corolário do Ai Jesus! e diz que se deve entregar o quiosque ao primeiro desconhecido, a troco de uma corrida à casa-de-banho mais próxima.
Não perdi tempo a redigir uma carta ao patrão aqui da zona a exigir condições de trabalho mais apropriadas, não fossem surgir novas réplicas da crise intestinal, além de que os utentes da Pastelaria Trancoso não têm culpa nenhuma.
Ao entregar o requerimento à funcionária, esta respondeu: “Desculpe, mas o patrão aqui da zona está em greve”. “É urgente! Onde posso encontrar o patrão aqui da zona?”, perguntei. “Bem, não é difícil encontrar o patrão aqui da zona. Ele usa uma camisola que atrás tem escrito 'Patrão aqui da zona'... Pode ser que esteja na Pasteleira Trancoso. Ele é o proprietário...”.
De sorriso nos lábios, rasguei a carta e parti descansado da vida, acompanhado daquele agradável sentimento de dever cumprido, pelas 10 e 25 da manhã.
Terça-feira, 29 de Maio de 2007
Segunda-feira, 28 de Maio de 2007
Homem, 45 anos, estatura média-baixa, bigode, calça de fato-treino vermelha, camisola de malha em losangos de cores sortidas, sapato de ir ao pêssego. À primeira vista, a descrição condiz na perfeição com o treinador adjunto do Valpaços. Mas não. Na realidade trata-se apenas do retrato-robot do comprador tipo de uma das melhores e mais surpreendentes fontes de receita do quiosque: o filme porno.
Para além das características acima indicadas, é ponto assente que o homem é benfiquista. ( O adepto do Sporting, na melhor das hipóteses, entretém-se a visionar uma ou outra cena mais escaldante da telenovela da noite. E, adeptos do Porto, por aqui... não há).
O homem de que falamos pode manifestar-se de inúmeras formas... Bem, na realidade, para ser mais preciso, pode fazê-lo apenas de duas.
Uma delas transforma-o num comprador porno técnico-táctico. O comprador técnico-táctico, para além de delinear uma estratégia para a compra, faz observações prévias ao produto que tem em vista. Estuda o título, espreita a capa e analisa o elenco, podendo a coisa prolongar-se por vários dias. Para ele, “Penetrando sem piedade” e “Rabinhos inquietos” são duas coisas completamente distintas. Por norma, é bastante reservado na sua aproximação à banca. Deixa fluir educadamente um hipotético amontoado de pessoal e, por fim, quando se encontra livre de qualquer intruso, solta um hesitante e quase inaudível: “Olhe, dê-me ali o coiso de zbrummm”. “Desculpe?”. “O coiso que está ali. O coiso de zbrummm...”. É o técnico-táctico, mas há quem lhe chame trinco.
Mas um comprador porno pode assumir uma outra faceta. É o criativo, o nº10 do porno. Não é homem de grandes indecisões. Para ele, “Donas de casa depravadas” serve perfeitamente e não há que prolongar o assunto. Não utiliza artimanhas baratas para acomodar o produto (falo da caixa do filme, claro) e geralmente vem acompanhado por mais que um compincha. Quando assim é, exibe orgulhosamente a sua compra ao grupo, podendo mesmo gerar uma inesperada corrida desenfreada ao filme-porno por parte do pessoal. No fim das transacções, trocam-se graçolas sobre os títulos, geram-se expectativas sobre os conteúdos e mandam-se piropos à moçoila mais próxima. É o chamado treino de conjunto.
Discretamente, tento manter-me à margem da paródia. Não é fácil, mas resisto estoicamente.